O SISTEMA FACH DE
CLASSIFICAÇÃO VOCAL – PARTE 2
LIVRO: “The Opera Singer’s
career guide – understanding the European Fach System”
AUTOR: Pearl Yeadon
McGinnis (editado por Marith McGinnis Willis)
EDITORA: The Scarecrow
Press, Lanham, 2010
OS ELEMENTOS DETERMINANTES
DO FACH
Há vários
fatores determinantes do “Fach” de um cantor. Isso inclui o equipamento vocal
básico de um cantor (voz), combinado com sua tessitura, “tamanho” da voz,
timbre, características físicas,
aparência, idade, experiência, freqüência de performance, desejo e
personalidade.
Como a voz
de um cantor soa é o fator inicial determinante do “Fach”. Isso depende muito nas características do
aparelho vocal, relacionadas diretamente com a fisiologia e anatomia do
indivíduo. Um soprano de estrutura corporal pequena dificilmente possuirá uma
voz dramática consistente. O mesmo se aplica a uma soprano alta, forte e com
“ossos largos”. Dificilmente possuirá uma voz leve, doce e ágil (para uma
discussão mais aprofundada sobre o aparelho vocal, leia o livro de William
Vennard: “Singing:
themechanismandthetechnic”).
Certamente
existem exceções, como Dame Joan Sutherland, uma imponente mulher com quase 2
metros de altura. Inicialmente, ele estudou Wagner, até que descobriu que
possuía talentos para o repertório de “soprano lírico coloratura” e “soprano
dramático coloratura”, especialmente as óperas de Bellini e Donizetti. Beverly
Sills era também uma mulher alta e imponente. Ela primeiramente ficou conhecida
internacionalmente como uma especialista em Handel, mas rapidamente se tornou
famosa como uma especialista em belcanto,
ou seja “o canto de passagens cantábile
(fluídas e harmoniosas) com pureza, suavidade e acabamento artístico, como na
tradição italiana”. Contudo, a maioria dos cantores de ópera pode ser
classificados inicialmente por suas características físicas, as quais,
frequentemente, corresponderão com sua sonoridade vocal.
Os papéis em
ópera foram desenvolvidos para corresponder a essa relação entre constituição
física e sonoridade vocal. Fadas, duendes e elfos são cantados por crianças ou
por vozes líricas leves. Os personagens jovens, como um filho ou filha são
cantados por vozes líricas e leves. Reis, pais, condes, demônios e fantasmas
possuirão vozes mais escuras. Esse mesmo sistema de classificação pode ser
observado no teatro musical norte americano.
O tenor, frequentemente, é o mocinho. E possui uma voz mais aguda,
melodiosa e suave do que o perigoso, e, por vezes, ainda atraente canalha,
normalmente interpretado por um barítono ou baixo com qualidades vocais que
soem grosseira e ameaçadora. Um grande exemplo dessa comparação vocal pode ser
observado no herói Curley e no vilão Jud, do musical “Oklahoma”, de Rodgers and
Hammerstein.
Do mesmo
modo, uma personagem jovem e doce, como Barbarina, da ópera “As Bodas de
Fígaro”, de Mozart, deverá possuir uma voz aguda e leve. Por outro lado, personagens
mais maduras, até mesmo com leve toque de loucura, como Elektra (na ópera
homônima de Richard Strauss), deverá possuir uma voz mais rica, com sonoridade
mais dramática.
Outro
exemplo dessa relação entre constituição física x constituição vocal pode ser
observada no personagem heróico, forte e poderoso de Tristão, da ópera de Wagner “Tristão e Isolda”. A escolha de um
tenor lírico poderia parecer estranha em um personagem tão poderoso.
VOZ
A voz é o
primeiro elemento determinante na escolha do “Fach” de uma pessoa. É prudente
considerar a voz como um instrumento e desenvolvê-la tão “friamente” quanto
qualquer outro instrumento. Cantores freqüentemente se referem a suas vozes
como se fosse uma entidade à parte. Em alguns aspectos, isso é verdade.
A voz é
constituída de vários fatores. Tanto biológicos, quanto emocionais, psicológicos
e culturais. Todos nascem com certa organização genética que provavelmente
determinará o tamanho das pregas vocais. As características físicas
fundamentais de uma pessoa são responsáveis, também, por determinar a largura e
o comprimento das pregas vocais, a musculatura intrínseca da laringe (que está
envolta das pregas vocais) e demais características do aparelho vocal. Isso
inclui a consistência do muco responsável pela lubrificação das pregas vocais;
o formato e tamanho das cavidades de ressonância, responsáveis, inclusive, pelo
“tamanho” e “cor” da voz; além de características respiratórias (sopro aéreo),
sem as quais não é possível produzir som algum.
TESSITURA (adaptações foram
feitas pelo tradutor)
A tessitura
é o segundo elemento determinante do Fach de uma pessoa. No Brasil utilizamos o
termo extensão para determinar quais notas o cantor conseguem cantar
(da mais grave a mais aguda) e usamos o termo tessitura para designar
quais notas, ou região de voz, o cantor realmente usará para cantar. Extensão e
tessitura são determinadas pela constituição física, mas também são modificadas
e aumentadas pelo treino vocal. Um cantor profissional não necessariamente
cantará em toda sua tessitura. Um exemplo que pode ser citado é o de Birgit
Swenson, uma soprano dramática, cuja extensão ia do F#2 até o F#5 do repertório
das sopranos coloraturas. No entanto, a maior parte de seu repertório requeria
que cantasse entre C3 e C5 (eventualmente, um C#5).
Tessitura
pode ser definida como a parte da voz que pode ser cantada consistentemente,
com facilidade e beleza. Essa será a tessitura do cantor – aguda, média ou
grave – a parte da voz aonde o cantor pode se expressar mais eficazmente.
Tessitura, do italiano, significa textura
e pode também indicar a região aonde a maior parte das notas de determinado
papel se situará.
TAMANHO (obs do tradutor:
referindo-se a poder sonoro)
O tamanho da
voz também é determinado pela constituição do aparelho vocal, mas também pode
ser desenvolvido através de treino. Tamanho pode se referir a vários fatores,
como a quantidade de “massa” sonora que um cantor consegue produzir e seu
efeito dramático. Um cantor deve, frequentemente, ser capaz de utilizar uma voz
“grande” para que consiga se sobrepor a orquestrações pesadas, ou uma voz
“leve”, para que consiga sustentar passagens leves e agudas. Outros elementos
influem na impressão de tamanho, tais como controle do fluxo aéreo, a
habilidade de sustentar as características vocais por períodos extensos e o
próprio timbre pessoal.
TIMBRE
Timbre pode ser descrito como a “cor” de uma voz, muitas
vezes referindo-se às suas características vocais básicas. O timbre é
determinado parcialmente pela constituição física do aparelho vocal mas, em
grande parte, é determinado pelo treino vocal. Alguns conhecimentos físicos
podem ajudar a analisar o timbre vocal de um cantor, como os conhecimentos
acerca de harmônicos, parciais, formantes e análise espectral, todos relatados
com questões de ressonância, que, juntos, produzem diferentes sensações de
timbre. O famoso professor de canto Italiano do século XIX, Giovanni Battista
Lamperti, disse que “a presença de ressonância na cabeça, boca e peito é prova
de que uma voz está completamente amadurecida, encorpada”.
CONSTITUIÇÃO FÍSICA
A constituição física de um cantor é de suma importância na
determinação de seu Fach. Altura, porte e personalidade contribuem fortemente
para isso. Algumas características físicas podem ser manipulados em palco. O
tenor italiano Mario del Monaco sempre usou saltos em seus calçados, o que
aumentava sua altura de 1,70m para 1,82m. Características físicas não
constituem grandes desafios, já que figurinos, maquiagem e perucas podem
disfarçar uma infinidade de falhas e/ou inadequações.
No entanto, a impressão que um cantor transmite no momento da
audição, sem figurinos, maquiagem ou peruca, é muito importante no julgamento
da adequabilidade de um cantor ao Fach requerido pela casa de ópera. Como
constituição física, na maior parte das vezes, anda de mãos dadas com as
características vocais de um indivíduo, a aparência exterior é um indicador
inicial do som vocal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário