quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O SISTEMA FACH DE CLASSIFICAÇÃO VOCAL – PARTE 3

O SISTEMA FACH DE CLASSIFICAÇÃO VOCAL – PARTE 3
LIVRO: “The Opera Singer’s career guide – understanding the European Fach System”
AUTOR: Pearl Yeadon McGinnis (editado por Marith McGinnis Willis)
EDITORA: The Scarecrow Press, Lanham, 2010
TRADUÇÃO: Charles Yuri Custódio – chayuc@gmail.com – http://www.facebook.com/studio.cyc

OS ELEMENTOS DETERMINANTES DO FACH
MATURIDADE
Na hora de determinar o “Fach” também é importante levar em consideração a idade e o nível de experiência do cantor. Por exemplo: dois dos termos utilizados na classificação “Fach”, lírico e dramático, são opostos em suas características. Cantores jovens, aqueles saindo da adolescência e entrando na idade adulta, podem até possuir potencial para se tornarem sopranos, mezzos, tenores ou barítonos dramáticos, mas seria imprudente interpretar tais papéis em idade tão tenra. É melhor que eles permaneçam com papéis líricos, com aparência mais jovial. Até mesmo Lamperti enfatizava esse processo de maturação: “é uma pena que cantores jovens, estudantes de canto, imediatamente cante canções e árias, literalmente antes de saberem como abrir adequadamente suas bocas, ao invés de estudarem seriamente o real suporte da voz, o mecanismo de controle de ar, afim de desenvolver sua voz, tornando-a suave e flexível”.
A regra geral seria a de que, quanto mais dramático o papel, mais idade e experiência seria necessária para interpretar o papel efetivamente. Assim como atletas precisam de anos de prática e experiência antes de participarem de uma olimpíada, também os cantores precisam de idade e experiência para lidar com as exigências físicas e emocionais de alguns papéis, principalmente os mais dramáticos.
Uma excessão maravilhosa a essa regra foi a fenomenal soprano, Astrid Varney (1918 – 2006). Em 1941, com apenas 23 anos, ela estreou no “Metropolitan Opera” cantando o papel deSieglind, da ópera “A Valquíria”, de Richard Wagner, um papel para uma soprano dramática. Seis dias depois, ela substituiu a enferma Helen Traubel como Brunhild na mesma ópera, outra papel composto para uma soprano dramática. Mais de 40 anos depois, durante uma performance de “Cavalaria Rusticana”, de Pietro Mascagni, no Teatro Nacional de Munique, quando Varney cantou sua primeira linha como Mamma Lucia, críticos escreveram que foi como se as nuvens tivessem se separado e o sol pudesse enviar seus raios, preenchendo todo o teatro com um calor aconchegante e som. Poucas cantoras de ópera possuiram seu talento natural de uma voz  que era, ao mesmo tempo, selvagem e radiante, enérgica e dramática. Tampouco é comum cantoras tão novas serem capaz de interpretar papéis tão dramáticos e difíceis do repertório operístico.
Como caractéristicas vocais e características físicas costumam coincidir, um cantor jovem normalmente será chamada para interpretar um personagem lírico, o que exigirá um cantor com aparência jovem. Um cantor mais velho, com anos de experiência e treino reforçado, normalmente se encaixará em um personagem mais velho, requerendo, para isso uma voz que soe mais madura.
Susana, da ópera de Mozart “As bodas de Fígaro”, é considerada um papel típico para uma soprano lírica jovem. Contudo, é um das papéis mais longos para sopranos, com aproximadamente uma hora e vinte minutos de música cantada. Deve-se tomar muito cuidado para que a duração de um papel não exija demais do jovem cantor. Embora Susana seja um papel adequado para uma soprano lírica estudar e se apresentar, em uma casa de ópera européia esse papel poderia ser feito em sistema de revezamento, com mais de uma soprano lírico se apresentando.

DESEJO/PERSONALIDADE
Após analisar as características físicas e vocais, há um fator importante que deve ser levado em consideração na determinação do “Fach” de um cantor: se ele realmente gosta de cantar em uma determinada tessitura, ou sente-se atraído para uma deteminada categoria de papéis (dramáticos em oposição à líricos, por exemplo). Cantores deveriam perguntar a si mesmos se “coloratura” (linhas melódicas rápidas) são agradáveis de se cantar (além de obviamente, serem desafiadoras) ou se preferem cantar músicas cheias de “portamento” (deslizando suave e discretamente de uma nota para outra) e “legato” (fluir sem “quebras” entre as notas). Se um cantor se sente mais confiante enquanto ator, não poderia procurar por papéis “buffo” ou cômicos? Se um cantor sente-se mais confortável deixando somente a voz transmistir a maior parte das emoções requeridas, não deveria este cantor, então, se concentrar em papéis mais “clássicos”, com menos ações físicas? Por exemplo, um papel extremamente dramático, como Leonora, da ópera Fidelio de Beethoven, poderia ser interpretada sem muita ação física e, ainda assim, ser efetivamente passional, apenas usando a voz.
                Essas considerações são uma mistura da personalidade do cantor com sua maturidade, e NÃO são facilmente definidas. Contudo, qualquer um que tenha cantado por um certo período, rapidamente descobre que a voz-corpo sentem-se mais confortáveis em certos tipos de músicas-papéis, e não tão confortáveis em outros. No entanto, habilidades de interpretação cênica, combinadas com as sonoridades vocais mais adequadas para um papel, irá adicionar mais intensidade físicas e emocional, necessárias para tornar um personagem “vivo”.

FREQUÊNCIA/RESISTÊNCIA
Uma análise aprofundada deve ser feita na escolha do “Fach” em relação a quais papéis podem ser interpretados várias vezes numa mesma semana sem causar fadiga vocal, especialmente se o cantor deve ensaiar ou estudar novos papéis durante o período de apresentações, ou se há ensaios extras durante as récitas. Há uma enorme diferença em apresentar 3 récitas na mesma semana de um papel com 45 minutos de canto (como Ágata, da ópera O franco atirador, de Carl Maria von Weber) e outro com aproximadamente 70 minutos de canto (como Susanna, da ópera As Bodas de Fígaro, de Mozart). Mantenha isso em mente: o “Fach” deve ser cuidadosamente escolhido não apenas pelos elementos já discutidos, mas também pela capacidade do cantor interpretar aquele papel várias vezes numa mesma semana.
OBS: frequência, nesse caso, pode ser entendido, também, como resistência. Como a capacidade do cantor executar um papel várias vezes numa mesma semana.
OBS2: como no Brasil não temos a realidade dos teatro de ópera, nossos maiores problemas devem-se a ensaios extenuantes e-ou acumular vários trabalhos ao mesmo tempo, ocasionando fadiga vocal.

ELEMENTOS CONSTITUINTES DO FACH DE UMA PESSOA
VOZ
Pregas vocais, membrana mucosa que recobre pregas vocais, muco, músculos, ressonadores e fluxo aéreo.
TESSITURA
Parte da voz que pode ser cantada consistentemente, com facilidade e beleza
TAMANHO
Refere-se a poder sonoro. A voz pode ser “grande” (large) ou “leve” (light)
TIMBRE
Característica individual da voz. A “cor” da voz de uma pessoa
CONSTITUIÇÃO FÍSICA
Muito importante na escolha de personagens. Dificilmente uma mulher alta e forte será escalada para uma personagem doce e meiga. Além disso, as chances de uma mulher alta e forte possuir uma voz mais dramática são, exponencialmente, maiores.
MATURIDADE
Soma dos anos vividos (idade) com a experiência do intérprete
DESEJO/ GOSTO PESSOAL
Os desejos e identificações do cantor também devem ser levados em consideração
FREQUÊNCIA
Quantidade de vezes que um papel deverá ser cantado. Refere-se a resistência do cantor em conseguir manter a efetividade de sua interpretação, mesmo com uma carga horária elevada de ensaios e/ou récitas.


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